Visite, também, www.clubecharme.blogspot.com

sábado, 25 de junho de 2011

Onde tudo começou

Lembro-me, com perfeição e nitidez absurda, os momentos felizes que - juntamente com meus irmãos Juliano, Luciano e Rodrigo, ou com o amigo Joel Carlos Rogério, o Joe - sentávamos em frente ao rádio e ficávamos ouvindo a Rádio Mundial, a primeira AM estéreo do país, antenados nos programas de Black Music. No programa Ritmos de Boate, sempre a zero hora, ou do Som dos Bailes, aos sábados, às 18 horas. Ou da expectativa de chegar o final de semana para poder dançar - com Marto, Dé, Thu, Fernando, Edinho e outros - no grande salão do Palmeirense Futebol Clube, quando a "galera" se reunia para dançarmos sempre com passos ensaiados.

Tudo isso na década de 80, na minha cidade natal Ponte Nova, encravada na Zona da Mata de Minas Gerais. Lembro-me também das brigas com o rádio, quando o sinal ficava fraco e o som ficava baixo demais, quase inaudível. Encostávamos o ouvido no rádio e ficávamos torcendo para o sinal melhorar logo. O programa Ritmos de Boate, com a vinheta sedutora de Munnnndiaaalllllll, ainda está vivo em minha mente e provoca sorrisos solitários em plena multidão. Ou aquela voz mágica que anunciava com sensualidade e elegância: oito...... meia...... zero..... Mundial!

As músicas que tocavam no programa Ritmos de Boate faziam-me, e ainda fazem, distanciar-me dos problemas do cotidiano; da corrupção na política; da violência causada, em alguns casos, pela omissão do Estado; pelas mazelas que afetam diretamente os moradores da periferia; pela futilidade e vaidade excessiva de políticos que preocupam-se apenas com seus projetos pessoais; da senhora de idade, com sua humildade e sorriso estampado no rosto, catando latinhas de alumínio nos shows para garantir algum dinheiro para o próprio sustento ou dos senhores já cansados pela idade avançada que empurram, às vezes sem forças, carrinhos de picolés em busca de dignidade.

Aos sábados, às 18 horas, a Rádio Mundial obrigava-me a ter um compromisso inadiável: ouvir o programa O Som dos Bailes. Os "balanços" que embalavam sonhos, esperanças, frustrações e desejos tornavam a vida mais amena e mais justa, porque permitiam que todos, independente da classe social, religiosa ou cultural, pudessem pertencer a mesma "tribo" e a mesma raça: a humana. Sem distinção! Pertencemos a uma mesma raça, independente da cor da pele, das condições financeiras, das classes sociais, religiosas ou culturais. Naquela época, um sonho surgiu: fazer um programa de Black Music, onde todas as "tribos" blacks pudessem se encontrar, sem preconceito, mesmo que virtualmente, tornando-se irmãos pelas ondas do rádio. Mas a vida me impôs outros caminhos. Mudei-me para Montes Claros, Norte de Minas Gerais. Esse sonho estava enterrado dentro da minha alma e pelas acomodações naturais na vida de quem sempre teve que trabalhar para garantir o dia de amanhã.

Mas um fato mudou a minha vida: a morte do meu pai, Ivan Sezko, em 2007. No velório, em pleno silêncio da madrugada, olhando para o corpo dele, pensando quais sonhos ele teria realizado e quais faltavam, uma música, um Charme (Its Your Life - Experience Alternative), tocou na minha cabeça, involuntariamente: "Do you remember your dreams, do you remember your hope?" (Você se lembra dos seus sonhos, você se lembra das suas esperanças?) Foi quando resgatei dentro de minha alma o sonho do programa de Black Music, voltando para os ritmos dos bailes, onde todos são iguais nesta tribo da música negra. E não a Black Music que escolhe os seus adeptos pela cor da pele, mas pela cor da alma. E posso dizer: minha alma é black. E meus sonhos não morreram. Eles renasceram naquele momento, como Fenix, o pássaro da mitologia Grega que renasce das próprias Cinzas. E esse renascer tem nome: Clube Black - O Som dos Bailes. Foram praticamente três anos de pesquisas e coleta de músicas. O programa ficou no ar, pela Rádio Expressão FM, durante quase cinco meses. Teve vida curta. Agora, trabalho na possibilidade de disponibilizá-los na web. Um novo desafio.

Seja bem-vindo a esta tribo. Seja bem-vindo a esse estilo de vida em harmonia com o mundo e com os nossos próprios corações. Que a Black Music una nossas vidas, mas, antes de tudo, que una as almas black em busca de um mundo mais justo e cheio de "balanços".

Você é o nosso convidado especial. Entre neste grande baile em busca de confraternização e de um ritmo que move corpos, mentes e almas.
Que Deus continue nos protegendo. Hoje e sempre!

2 comentários:

  1. Esse texto, me fez lembrar os tempos de adolescência, onde torcíamos para chegar as 18:00 para ouvirmos a bela voz de Alberto Brizola, trazendo uma mensagem linda, animadora. Logo depois tocar a música do momento. Lembro de uma que ficou muito tempo nas paradas do sucesso: "Quem me chamou, não vai querer voltar comigo, e reaprender a sonhar..." Brincar de Viver, com a Maria Bethânia. E quem não namorou ao som do programa "Arco da Velha" que tocava músicas românticas da década de 60 e 70. Tempo muito bom. O texto escrito por você tem uma forma envolvente e trouxe à tona sentimentos vivenciados há uns 30 anos atrás, como se fossem hoje.. Essa é a beleza da escrita e da música, nos faz relembrar momentos que nos marcaram. Parabéns, vc escreve muito bem!
    Att
    Grácia

    ResponderExcluir
  2. Obrigado pelo comentário e pelo elogio. Espero ter a oportunidade de conversarmos mais a respeito da Rádio Mundial e do fascínio que a música proporciona. Espero contato: alexsezko@yahoo.com.br

    ResponderExcluir